Entre a imprensa e Lula, Dilma fica com Lula
Ministro sob suspeição
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Balaio do Kotscho
No começo da tarde desta terça-feira, a ministra do STF Carmem Lúcia Antunes Rocha, uma das figuras mais sérias que conheço no tribunal, abriu inquérito para investigar as suspeitas de envolvimento do ministro do Esporte, Orlando Silva, nos esquemas de corrupção da pasta, atendendo a pedido do procurador-geral da República, Roberto Gurgel.
Os seguidores do PCdoB que aportaram neste blog desde a semana passada para me criticar, deveriam acompanhar com mais cuidado o noticiário e não ficar brigando com os fatos.
No mínimo, o ministro Orlando Silva está agora, oficialmente, sob suspeição. Como poderá atuar em nome do Brasil nas negociações sobre a Copa do Mundo e as Olimpiadas marcadas para o nosso país?
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Pressionada por todos os lados, a presidente Dilma Rousseff resolveu dar um tempo _ exatamente para mostrar ao mundo que não decide sob pressão.
O problema é saber quanto tempo ela vai levar para fazer o que até as paredes do Palácio do Planalto, que não são surdas, já sabem faz tempo: tirar Orlando Silva do Ministério do Esporte.
De um lado, estavam toda a grande imprensa brasileira, a FIFA e a CBF, querendo a cabeça de Orlando Silva de qualquer jeito; de outro, o aliado PCdoB apoiado pelo ex-presidente Lula, que recomendou ao partido e ao ministro para irem à luta e não abrirem mão do Ministério do Esporte.
Não estou aqui revelando nenhum segredo de Estado, até porque não os tenho. Quem anunciou o apoio incondicional de Lula foi o próprio presidente do PCdB, Renato Rabelo, em discurso durante ato público promovido na mesma noite de sexta-feira em que o ministro ganhou um "voto de confiança", uma sobrevida concedida por Dilma.
A presidente mal tinha acabado de chegar da sua viagem à África, sem tempo nem para desarrumar as malas, e todo mundo já estava anunciando a demissão de Orlando Silva, até o mané do secretário-geral da Fifa, Jérome Valcke, que se achou no direito de antecipar em Zurique a troca do ministro do Esporte brasileiro, antes mesmo de Dilma recebê-lo em audiência.
Resultado: Orlando Silva entrou no gabinete da presidente da República cheio de moral, disposto a se manter no cargo e anunciando que tinha todos os documentos para provar sua inocência, mas não foi por isso que ele ficou, nem mesmo por contar com o apoio do padrinho Lula.
Foi, simplesmente, porque Dilma não pode trocar ou manter ministros a pedido de terceiros. Exageraram na dose, e ela resolveu se dar um prazo para esperar os resultados da varredura que mandou fazer no Ministério do Esporte e reunir documentos dos orgãos de controle do próprio governo, do TCU, da CGU e da PGR.
Desta vez, não será a imprensa a anunciar como vitoriosa a queda do sexto ministro de Dilma em menos de dez meses de governo, nem será apenas pelas acusações do ex-aliado à revista "Veja".
Será Dilma, no momento em que ela achar mais conveniente. Mas não passa, na pior das hiopóteses, da reforma ministerial prevista para o começo do próximo ano.
Pouco importa se ele recebeu ou não dinheiro pessoalmente na garagem do ministério, o que me parece inverossível, e é evidente que não aparecerá nenhum recibo ou vídeo para provar a entrega da propina.
O fato é que Orlando Silva não tem a menor condição política nem moral de permanecer no cargo pelo conjunto da obra, pela enxurrada de casos comprovados de desvio de dinheiro público envolvendo ONGs de camaradas como o soldado João Dias, funcionários do Ministério do Esporte, dirigentes e militantes do PCdoB, um esquema de roubalheira que está em funcionamento faz muitos anos no país inteiro.
Por isso, o procurador-geral da República, Roberto Gurgel, pediu ao Supremo Tribunal Federal a abertura de inquérito sobre os "malfeitos" tanto na administração de Orlando Silva, como na de seu antecessor, Agnelo Queiroz, que assumiu o ministério em 2003, na cota do PCdoB, e depois se bandeou para o PT e se elegeu governador de Brasília.
Mais do que ninguém, a presidente Dilma sabe que a situação do ministro do Esporte é insustentável e indefensável _ no mínimo, por omissão, por não saber o que se passa sob as suas barbas.
"Ele não resistiria a mais uma denúncia nova", teria dito a presidente a interlocutores durante a viagem de segunda-feira a Manaus. Entre eles estava o ex-presidente Lula, que viajou com Dilma de Brasília a Manaus no avião presidencial e de lá foi para o México.
Já escrevi aqui várias vezes e repito: pelo que conheço dos dois, não há a menor chance de que a definição do caso Orlando Silva, seja qual for, possa abalar a relação entre Lula e Dilma. Os dois sabem que jogar um contra o outro é o principal objetivo da imprensa hoje, e sabem também que um precisa do outro para defender a continuidade do projeto político que chegou ao poder em 2003.
Perdem seu tempo os coleguinhas que a todo momento procuram encontrar divergências entre eles e acusam Lula de interferir demasidamente no governo da sucessora. Ambos se respeitam e são, acima de tudo, amigos fraternos.
Toda vez que a oposição midiática ou partidária, o secretário-geral da FIFA e o presidente da CBF, e quem mais for, estiverem de um lado, e Lula, de outro, podem ter certeza de que Dilma ficará com Lula. E a aliança dos dois se fortalece