quinta-feira, 13 de outubro de 2011

Cardeal da CNBB condena a corrupção em celebração no Santuário de Aparecida



Os desvios éticos dos políticos preocupam a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB). Na missa de ontem em homenagem à padroeira do Brasil em Aparecida (SP), o cardeal dom Raymundo Damasceno Assis, presidente da CNBB, condenou a corrupção no país e convocou os brasileiros a denunciarem os malfeitos. A crítica foi feita na homilia da missa, diante de 140 mil fiéis. “Não podemos concordar com nenhuma forma de corrupção, pois os recursos são da população”, afirmou dom Raymundo, que é arcebispo de Aparecida. “A Igreja pede que as denúncias sejam investigadas.”

Após celebrar a missa, Damasceno falou em entrevista a jornalistas sobre os movimentos da sociedade civil organizada contra a corrupção e sobre a reforma política. “Parece que se está discutindo no Congresso mais uma reforma eleitoral do que uma reforma política propriamente dita”. O governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, que assistiu à missa, também defendeu a reforma: “O modelo atual leva a distorções muito graves”.

Em pelo menos 24 cidades, além de Brasília, o 12 de outubro foi marcado ontem por protestos contra a corrupção, ainda que mobilizando menos pessoas do que na capital federal. Manifestantes saíram às ruas para exigir ética na política em São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Salvador, Fortaleza, Recife, João Pessoa, Porto Alegre, Recife e Goiânia, entre outras.

Pré-sal

No Rio, os protestos reuniram 2.500 pessoas na Avenida Atlântica, em Copacabana. Além do fim da impunidade, os manifestantes pediam também a nacionalização das jazidas de petróleo do pré-sal. Em Belo Horizonte, os protestos ocorreram na Praça da Liberdade. No Recife, na Praia de Boa Viagem. Em Salvador, no circuito Barra-Ondina. Em Curitiba, os manifestantes saíram da Universidade Federal do Paraná e foram até o centro histórico.

Em São Paulo, aproximadamente 2 mil pessoas foram à Avenida Paulista, que já havia sido local de manifestação semelhante no dia Sete de Setembro. Dessa vez, a concentração ocorreu às 14h no vão livre do Museu de Arte de São Paulo (Masp) e a passeata seguiu em direção à Rua da Consolação rumo ao Centro, dispersando-se em frente ao Theatro Municipal por volta das 18h.

Segundo o tenente-coronel da PM Roberto Borchardt, a manifestação foi pacífica, apesar de um incidente isolado, e marcada pela presença de jovens. Assim como nos demais estados, o protesto em São Paulo foi combinado pelo Facebook. A maioria das postagens feitas pelos usuários da rede se diz apartidária e tem três bandeiras comuns: o fim do voto secreto no Congresso Nacional, a aplicação da Lei da Ficha Limpa e a transformação da corrupção em crime hediondo. Alguns dos participantes pediam ainda 10% do PIB para a educação.

Protestos contra corrupção reúnem milhares em 12 cidades e no DF

Milhares de pessoas tomam a Esplanada durante Marcha Contra a Corrupção Como era feriado, a marcha não causou muitos transtornos ao trânsito de São Paulo, normalmente complicado. Os motoristas de ônibus e táxis, que costumam ficar irritados com as passeatas na Paulista, dessa vez deram apoio buzinando ao passar pelo local. “A causa é nobre. Os nossos políticos precisam ser sérios. A corrupção está descarada de Norte a Sul em todas as esferas de governo”, disse o taxista Fabrício Mahanjan, 28. Assim que chegou ao centro da cidade, a passeata foi engrossada por um grupo de senhoras que carregavam vassoura e pá de lixo. Elas faziam protesto conta o senador José Sarney (PMDB-AP), e o prefeito Gilberto Kassab (PSD). “A corrupção no Brasil já está banalizada. Já está mais do que na hora de irmos às ruas mostrar que essa pouca-vergonha tem que acabar”, esbravejava Valência Moura, 57 anos, funcionária pública federal.

O incidente isolado de violência ocorreu ainda na Paulista, onde um jovem usou tijolos para quebrar a vidraça do McDonald e do Banco HSBC da Paulista. Os manifestantes repudiaram a ação do vândalo, que ele foi levado para o 8º DP. No final da tarde, a polícia disse que foi identificado como skinhead e ficará detido para ter os seus dados cruzados com o banco de pessoas que são procuradas na região da Paulista por ter atacado gays.

"Não podemos concordar com nenhuma forma de corrupção, pois os recursos são da população. A Igreja pede que as denúncias sejam investigadas”

Dom Raymundo Damasceno,
cardeal arcebispo de Aparecida e presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB)



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