'Máfia' das licitações do
metrô de São Paulo envolve governos do PT, PMDB e PSDB
Sujeira
para todo lado, sendo jogada no ventilador...
O esquema, que pode ter desviado 9,4
bilhões de reais, envolve 18 empresas e Governos do PSDB, PT e PMDB. Além
disso, o número de pessoas investigadas chega a 109.
Um suposto esquema de corrupção que
atingia principalmente o governo do PSDB de São Paulo tomou uma dimensão
nacional nesta quinta-feira. O Conselho Administrativo de Defesa Econômica
(CADE) anunciou que 18 empresas nacionais e estrangeiras, além de 109 pessoas,
estão sendo investigadas por formação de cartel que agiu na venda e reforma de
trens para companhias públicas paulistas e também atuaram em outras quatro
unidades da federação: Rio de Janeiro, Distrito Federal, Minas Gerais e Rio
Grande do Sul. A suspeita é que as empresas e seus funcionários tenham atuado
irregularmente em ao menos 15 operações de comercialização de trens e de
serviços entre os anos de 1998 e 2013, o que teria lesado os cofres públicos em
9,4 bilhões de reais. Apenas para efeito de comparação, esse valor é maior do
que o orçamento anual de vários Estados brasileiros como o de Sergipe
(orçamento de 8,3 bilhões de reais) ou do Piauí (7,7 bilhões de reais), ambos
no Nordeste.
Conforme uma nota técnica publicada
no Diário Oficial da União, as investigações começaram em maio de 2013, após a
multinacional alemã Siemens e alguns de seus funcionários assinarem um acordo
de leniência para denunciar o esquema ao CADE, que é o órgão vinculado ao
Ministério da Justiça responsável por fiscalizar delitos financeiros . Caso se
comprove as irregularidades, esses servidores e a Siemens terão penas mais
brandas do que os demais que não delataram o esquema.
A ampliação da investigação era
apenas uma questão de tempo. No ano passado mesmo, quando as primeiras
denúncias vieram à tona, a tropa de choque do PSDB tomou a frente para dizer
que não só São Paulo tinha contratos com as empresas investigadas, mas todos
esses outros Estados citados nesta quinta-feira, além de Pernambuco que ainda
não é alvo de investigação. Assim, com a expansão das apurações, não só os
Governos tucanos paulistas (de Mario Covas, Geraldo Alckmin e José Serra) ficam
na mira dos investigadores.
TUDO
NO MESMO SACO
As provas testemunhais e documentais
obtidas pelo CADE mostram que o Governo de Sérgio Cabral (PMDB), no Rio de
Janeiro, o de Joaquim Roriz (ex-PMDB), no Distrito Federal, e até o da
presidenta Dilma Rousseff (PT) em Belo Horizonte e Porto Alegre também estão
sob suspeita. No caso de Rousseff a investigação ocorre porque as companhias
responsáveis pelas obras em Minas Gerais e no Rio Grande do Sul, a Trensurb e a
CBTU, são duas autarquias federais, e não estaduais como nos demais casos.
O esquema funcionava assim, segundo o
CADE: os participantes do cartel dividiam as licitações entre eles e simulavam
a competição nas disputas. Os valores das propostas comerciais, porém, eram
previamente combinados pelas empresas e consórcios concorrentes.
“Sob o manto de consórcio, as
acusadas teriam adotado diversas estratégias anticompetitivas, como a definição
prévia de quais empresas fariam parte de determinado consórcio e quais
participariam da licitação apenas para apresentar propostas de cobertura –
quando há acerto de que uma das companhias ofertará valor superior para
propositadamente não vencer a concorrência pública.
Outra medida adotada seria a
definição de que um único consórcio concorreria no certame, mediante
compensação às empresas que ficassem de fora”, diz trecho de nota do órgão
federal. Para o CADE, a promessa de subcontratação foi usada como forma de
“eliminar previamente competidores e até mesmo de recompensar aqueles que
aderissem ao suposto cartel”.
PROPINAS
Em São Paulo, onde o esquema ganhou
maior notoriedade por envolver supostos pagamentos de propina e citar membros
do alto escalão do governo paulista, a investigação já está bastante adiantada.
O Ministério Público, que pede a devolução de 875 milhões de reais aos cofres
públicos, , dividiu a apuração em três frentes. No início deste ano, os
promotores firmaram um acordo com o Governo para interromper a reforma de trens
do metrô porque a contratação dessas empresas teria sido irregular. Por outro
lado, o governo Alckmin montou um grupo de trabalho para investigar as
irregularidades e para punir administrativamente os envolvidos.
Enquanto o CADE espalha o manto da
suspeita para outros contratos, defensores das empresas investigadas reclamam
da atuação do órgão. A maioria das que foram citadas na denúncia da autarquia
federal diz que vai colaborar com as investigações. Outras, como a Procint,
dizem que não participaram de nenhum esquema ilegal e acusam o CADE de atuar em
benefício da gestão Rousseff. “O CADE, neste assunto, tem agido como um braço
partidário. Antes, ele só se manifestava contra gestões em que os governantes
eram adversários políticos da União, que foi o caso de São Paulo e o do
Distrito Federal. Citar os casos de Belo Horizonte e de Porto Alegre, onde o
responsável é a União, é uma tentativa de disfarçar essa ação partidária, já
que esses casos são antigos, mas nunca o CADE quis torná-los públicos”,
reclamou o advogado Eduardo Carnelós, que defende a Procint, uma das 18
empresas investigadas.
As empresas terão um prazo para
apresentar suas defesas na esfera administrativa. Se o esquema ilegal for
comprovado, os envolvidos poderão pagar uma multa de até 20% de seu
faturamento. Além disso, deverão responder a processos criminais que já estão
sendo tocados pela Polícia Federal e pelo Ministério Público.
As
empresas citadas pelo CADE
Alstom Brasil Energia e Transporte
Ltda. (francesa)
Balfour Beatty Rail Power Systems
Brazil (britânica)
Bombardier Transportation Brasil
Ltda. (canadense)
CAF Brasil Indústria e Comércio
(espanhola)
Caterpillar Brasil Ltda.
(norte-americana)
ConsTech Assessoria e Consultoria
Internacional Ltda. (brasileira)
Empresa Tejofran de Saneamento e
Serviços Ltda. (brasileira)
Hyundai-Rotem Co. Ltd. (sul-coreana)
IESA Projetos Equipamentos e
MontagensS.A. (brasileira)
MGE Equipamentos e Serviços
Ferroviários Ltda. (norte-americana e brasileira)
Mitsui & Co Ltd. (japonesa)
MPE - Montagens e projetos especiais
S.A. (brasileira)
PROCINT - Projetos e Consultoria
Internacional S/C Ltda. (brasileira)
Serveng-Civilsan S/A - Empresas
Associadas de Engenharia (brasileira)
Siemens Ltda. (alemã)
TCBR Tecnologia e Consultoria Brasileira
S/A (brasileira)
Temoinsa do Brasil Ltda. (espanhola)
Trans Sistemas de Transportes S.A.
(brasileira)
FONTE:
JORNAL EL PAÍS - ESPANHA
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