Dizendo "ser em nome de Deus", Pastor Evangélico da Igreja Batista é preso por mostrar filmes pornográficos para os filhos dos fiéis
Um
pastor evangélico acabou preso ontem suspeito de estuprar dois meninos
de 8 e 11 anos. Josuel Gonçalves de Sousa, 45 anos, atuava na Igreja
Batista Pentecostal Jeová Jireh, em Vicente Pires, no Distrito Federal.
Ele negou que tivesse violentado as crianças, mas a polícia não tem
dúvidas das acusações e acredita que novos casos surgirão nas próximas
semanas. O homem teria abusado dos garotos pelo menos cinco vezes em 12
meses. Agentes da Delegacia de Proteção à Criança e ao Adolescente
(DPCA) investigaram o religioso por cerca de 120 dias. A detenção
ocorreu na casa dele, na QE 24 do Guará 2, por volta das 7h.
Por
volta das 11h de ontem, o delegado adjunto da DPCA, Rogério Borges
ouviu o pastor e a mulher dele. Ela foi liberada em seguida, mas a
polícia pediu a prisão preventiva do acusado, que deve permanecer preso
até o julgamento. Na casa do suspeito, os policiais apreenderam
computadores, CDs, DVDs e uma máquina fotográfica. Além dos abusos, ele
teria exibido filmes pornográficos para as crianças. O equipamento foi
encaminhado para a perícia. “Vamos aguardar o laudo do Instituto de
Criminalística. O acusado ficará na carceragem do Departamento de
Polícia Especializada (DPE).”
O pastor evangélico |
Segundo
o diretor do DPE, Mauro Cezar Lima, os meninos abusados são filhos de
fiéis da igreja de Josuel. Eles se queixaram para os pais, que
registraram queixa na DPCA em setembro do ano passado. Mauro Cezar
contou que ele se valia da condição de pastor para ficar com os meninos e
os convencia a praticar os abusos “em nome de Deus”. Geralmente, os
atos libidinosos ocorriam dentro do carro do pastor, no trajeto entre a
igreja e a casa do suspeito. O acusado contava que levava os garotos
para brincar com o filho adotivo, de 8 anos. “Ele conquistou a confiança
dos pais e dizia para os meninos que o que fazia tinha o amparo de
Deus”, relatou o delegado.
Depois
da denúncia, policiais e psicólogos colheram os depoimentos dos
parentes e das crianças. No caso das vítimas, todo um cenário é criado
para que os pequenos se sintam à vontade para conversar com os
especialistas e relatar os crimes. Durante uma das sessões, o garoto de
11 anos, muito abalado, chorou ao narrar o que acontecia no carro e na
casa do suspeito. Josuel responderá por estupro de vulnerável e pode
pegar de oito a 15 anos de prisão por cada crime.
Mauro
Cezar disse que os depoimentos têm força para manter o pastor preso até
o julgamento. “Precisamos de muitas provas para pedir uma prisão
preventiva, que é uma atitude enérgica”, explicou. “De forma técnica e
científica, chegamos a essa lamentável autoria. Um líder religioso
praticou estupro contra crianças. É um recado que eu quero deixar para
os pedófilos. Eles terão, em Brasília, endereço certo: a penitenciária
Papuda. Se algum outro garoto foi molestado, peço aos pais que venham à
DPCA. Vamos apurar cada denúncia”, garantiu o diretor da DPE.
Inocência
Ao
ser apresentado à imprensa ontem, Josuel jurou inocência. Ele disse que
a mãe de uma das vítimas teria tramado contra ele porque o pastor
recusava as investidas da mulher. O acusado insistiu que o pai do outro
menino teria sido convencido a também registrar queixa. Disse ainda que é
íntimo da família dos meninos e ajudava os pais a resolverem problemas
conjugais. “A mulher dele queria ter um caso comigo e criou essa
situação. Essas crianças foram poucas vezes lá em casa. Iam brincar com o
meu filho. De forma alguma, eu tive algum tipo de contato com esses
meninos. Nem entrei no quarto com eles. Falo isso sem medo”,
defendeu-se.
O
advogado do suspeito, Ivan Bonfim, sustentou que em nenhum momento ele
tocou nas crianças. Elas ficaram na casa dele por duas oportunidades,
sempre estiveram na companhia do filho dele, da sogra e da mulher. “Pode
se tratar até de uma questão pessoal. Tudo indica que haja um elemento
pessoal envolvido na comunicação do fato. Talvez um excesso de zelo de
uma mãe, uma interpretação equivocada do comportamento da criança que
teria induzido essa mãe a crer na existência de um conduta atribuída ao
Josuel”, alegou.
O Correio esteve
na rua do pastor e conversou com alguns vizinhos. Alguns moradores se
mostraram surpresos com as acusações. Josuel era visto na QE 24 do Guará
2 como um homem solícito e amigável. Algumas pessoas se surpreenderam
ainda mais porque têm filhos que brincam em frente à casa do acusado e
teriam, inclusive, entrado na residência, embora acompanhados dos pais.
Familiares do religioso não quiseram falar com o Correio. Questionados, disseram apenas que ele é inocente e que “logo todos verão a verdade”.
Fonte: Correio Braziliense
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